O “Loading… Nossos Primeiros Jogos de Computador” faz um resgate histórico preenchendo um espaço que não estava bem resolvido, escancarando os desafios da produção nacional de jogos em computadores, sem deixar de evidenciar a diversidade de equipamentos da época final da ditadura.
A questão é que o Brasil sempre mereceu um estudo aprofundado do cenário do mercado de tecnologia daquele momento, pois proporcionou a criação e desenvolvimento de produtos, e inclusive de empresas, sob o alicerce da dúvida nos tópicos de propriedade industrial e intelectual.
Obra do acaso ou não, isso está diretamente ligado a política de reserva de mercado imposta ao país na década de 1980, exigindo do empresariado investimentos internos em maquinários, pessoas e processos, para um avanço sem precedentes neste campo, contudo, a realidade era amarga, afinal, não existiam estruturas mínimas para escalar o conhecimento, e por consequência, as invenções e inovações.
Imagem da capa do DVD e Blu-Ray. Fonte: Divulgação.
Tal mecanismo resultou em organizações que fabricavam cópias de produtos já consolidados em outros continentes e com o ativo de marketing pautado na oferta de solução definitiva para o uso doméstico ou corporativo, e assim, tínhamos uma série de produtos sem um padrão entre si, seja na arquitetura técnica ou nos interpretadores de programação, instaurando um grande “laboratório de transformação” que no fundo visava apenas o resultado financeiro através das vendas.
E sabe quem estava no meio disso tudo? Quem comprava o microcomputador, ou seja, o cliente.
Tudo era empírico, sendo as lacunas de informação o maior impedimento. Logo, outras oportunidades surgiram com o aparecimento de revistas especializadas (exemplos: Input e Micro Sistemas), software houses (revenda de programas), clubes de discussão e a ampliação do parque com periféricos abrasileirados.
Nostalgia Tech
Neste enredo, os produtores, roteiristas e diretores Marcus Garrett e Carlos Bighetti, decidiram cumprir este papel na disseminação de um rastro para as próximas gerações sobre o ocorrido, enaltecendo também os principais protagonistas que criaram códigos e descobriram meios para agregar valor aos dispositivos que agora habitavam lares e empresas.
Um ponto fundamental no documentário foi a sensibilidade exposta nos relatos, criando uma conexão entre os que estão na tela e os expectadores, afinal são testemunhais repletos de vivências de indivíduos que fizeram, participaram, apoiaram e consumiram jogos que deixavam os dias mais leves e libertavam a curiosidade em tecnologia.
Trailer do documentário.
E comigo também há uma ligação neste ecossistema (ou seriam ecossistemas?) e tive a chance de ser entrevistado no dia 30 de julho de 2022, em uma casa na zona oeste de São Paulo, que aparentava ter sido congelada no tempo, remetendo gatilhos mentais de um passado não tão distante, uma regressão repleta de emoção.
Make In Off
Neste local com garagem estreita, quintal de piso avermelhado, térreo com tacos, interruptores que brilhavam no escuro, janelas e vitrôs de ferro e diversos vasos de plantas por todo o lado, foram elaboradas composições que estão no “Loading…“, como o exemplo da imagem abaixo, onde o Arthur Nascimento (como Christiano) diz ao Ricardo (seu Pai): “Pai, o ATARI® é muito legal, mas a gente precisa se atualizar…” (trecho em 34’40” do filme).
Já no andar superior, vivenciamos um outro cenário atemporal, onde foram captados os depoimentos do Robson França, que inicia falando sobre o primeiro contato ao ligar o equipamento e ver apenas um cursor (prompt) piscando (em 07’30”).
Na sequência, o Daniel Ravazzi (criador e organizador do MSX SAMPA), enaltece sobre as particularidades das linhas de microcomputadores (no documentário está em 14’34”).
Por fim, o Carlos Bighetti e sua câmera obtém de Ovídio ([risos] eu mesmo…), o quão os criadores eram mágicos da programação, desenvolvendo coisas diferentes com um ferramental técnico altamente limitado, contudo usando e muito, a criatividade para resultados acima do esperado (em 21’17”).
Para saber mais sobre a jornada por trás das cenas, vale a visita na página exclusiva hospedada em uma rede social, seguindo este link.
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